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           John Locke, pai do Iluminismo e fundador da escola empirista, sublinhou a importância que desempenham as impressões sensoriais para o desenvolvimento da experiência no sujeito. Este empirista imaginou o espírito de uma criança como uma folha de papel em branco ("tábua rasa") no qual é registada todo o tipo de experiências. Segundo este autor, é a experiência que molda o sujeito num ser único.

          Esta opinião foi tida em conta por Jean-Jacques Rousseau que acreditava que os recém-nascidos eram dotados de um senso inato de justiça e moralidade que se viria a desenvolver ao longo do crescimento do mesmo.

            Em meados do séc. XIX, o progresso da ciência fundiu-se com as preocupações crescentes em relação ao bem-estar das crianças, provocando o surgimento das primeiras teorias científicas do desenvolvimento infantil. 

         

          ý PERSPECTIVA BIOLÓGICA

          Segundo esta perspectiva, o desenvolvimento intelectual e o da personalidade, assim como o físico e o motor, ocorrem de acordo com o plano biológico. Uma das primeiras teorias biológicas a surgir foi a da maturação proposta por Arnold Gesell (1880-1961).

          A teoria da maturação defende o desenvolvimento segundo quatro dimensões de conduta: motora, verbal, adaptativa e social.

          Na concepção de Gesell, o desenvolvimento nada mais é do que um desdobramento natural de um plano biológico em que a experiência pouco ou nada interessa. Este investigador incentivava mesmo os pais a deixarem as crianças desenvolverem-se por elas próprias, sem qualquer tipo de ajuda. Tudo isto se devia, naturalmente, ao facto de Gesell acreditar que sem a interferência dos adultos, comportamentos como o falar, brincar e raciocinar surgiriam espontaneamente de acordo com um cronograma de desenvolvimento predeterminado.

          Gesell é de um ponto de vista mais operacional, responsável pela produção de escalas de desenvolvimento, resultantes do seu trabalho de pesquisa clínica no desenvolvimento infantil em Yale. Estas escalas são bastante minuciosas e abarcam as quatro dimensões acima referidas.

          Outra teoria a surgir segundo a perspectiva biológica foi a teoria etológica. Esta encara o desenvolvimento de uma perspectiva evolucionista. Esta teoria foi desenvolvida por autores como Tinbergen (1951), Lorenz (1966), Bowlby (1969) e, sobretudo, por Blurton Jones e colegas (1972). Defende que muitos dos comportamentos das crianças são meramente adaptativos pois, possuem um valor de sobrevivência. Exemplos de alguns desses comportamentos seriam o de abraçar, chorar e agarrar pois tem como objectivo fundamental a de aliciarem os cuidados dos adultos.

 

     ý PERSPECTIVA PSICODINÂMICA

          É a mais antiga perspectiva cientifica sobre o desenvolvimento infantil, remontando ao trabalho de Sigmund Freud (1856-1939). Ao utilizar as histórias dos seus pacientes, Freud criou a teoria psicodinâmica, que sustenta que o desenvolvimento é, na sua grande maioria, determinado pela forma como as pessoas resolvem os seus próprios conflitos ao longo do seu crescimento. Dois aspectos da teorização de Freud influenciaram as pesquisas de desenvolvimento infantil: a teoria da personalidade e a do desenvolvimento psicosexual.

     Na teoria da personalidade, Freud sugeriu que a personalidade compreendia 3 componentes primários que se viriam a revelar em idades distintas:

     - o id, que consiste no reservatório de impulsos primitivos, por exemplo, um bebé cheio de fome a chorar ilustra a acção do id.

     - o ego, que nada mais é do que o componente prático, racional da personalidade. Surge durante o primeiro ano de vida, à medida que os bebés começam a compreender que nem sempre podem ter o que desejam. O ego tenta resolver os conflitos que ocorrem quando os desejos do id não podem ser satisfeitos no mundo real.

     - o superego, é o "agente moral" na personalidade da criança. Surge durante os anos pré-escolares, quando as crianças começam a interiorizar os padrões adultos de certo e errado. Por exemplo, quando a criança vê outra a brincar com um brinquedo atraente, o id a impeliria a tirar o brinquedo à outra crianças mas, o ego a encorajaria a brincar com o brinquedo atraente juntamente com a outra criança.

           A teoria do desenvolvimento psicosexual defende que o ser humano deseja experimentar o prazer físico desde o momento do seu nascimento. À medida que as crianças crescem, o foco de prazer desloca-se para diferentes partes do corpo. Por exemplo, do nascimento até ao primeiro ano de vida, o bebé encontrar-se-ia no estágio oral que, como o próprio nome indica, a criança busca o prazer oralmente, em geral sugando (mamar).

          Freud acreditava que o desenvolvimento da criança correria melhor se em cada um dos estádios todas as suas necessidades fosses satisfeitas mas, não em excesso. Caso tal não sucedesse, as crianças sairiam frustradas e seriam mais relutantes em passar para outras formas mais maduras de estimulação.

          A teoria psicossocial de Erik Erikson (1902-1994) defende que os aspectos psicológicos e sociais do desenvolvimento eram mais importantes do que os aspectos biológicos e físicos que Freud enfatizava. Nesta teoria, o desenvolvimento consistia numa sequência de estágios, cada um definido por uma única crise ou desafio.

 

ý PERSPECTIVA da APRENDIZAGEM

          As primeiras teorias da aprendizagem surgiram com Skinner que estudou o condicionamento operante, em que as consequências de um comportamento determinam se este será repetido futuramente. Ele conseguiu demonstrar através de diversas experiências que existem dois tipos de consequências que exerciam especial influência: o reforço e a punição.

O reforço consistia em dar uma recompensa, como chocolate ou dinheiro,  em troca do comportamento     pretendido,   ou     seja,     é

um consequência que aumenta a probabilidade futura de ocorrer o comportamento que a gerou.

 

           A punição é um consequência que diminui a futura probabilidade do comportamento que a gerou ocorrer. Por exemplo, quando a criança não arruma o quarto, os pais poderiam puni-la, obrigando-a a executar tarefas extras (acrescentando algo desagradável)   ou   proibindo-a   de  jogar play-station (retirando algo agradável).

          Quando aplicados adequadamente, o reforço e a punição exercem, com efeito, influências poderosas sobre as crianças. Embora investigações tenham igualmente revelado que as crianças aprendem igualmente sem qualquer tipo de reforços ou punições. Elas aprendem sobretudo pela observação, o que é conhecido como imitação ou aprendizagem observacional.

          Albert Bandura (1925-) baseou a sua teoria social-cognitiva nesta noção mais complexa de recompensa, punição e imitação. Esta teoria é conhecida como cognitiva porque Bandura acredita que as crianças estão tentando activamente entender o que se passa no seu próprio mundo. A parte social deve-se ao facto de, junto com o reforço e punição, o que as outras pessoas fazem é uma fonte importante de informação sobre o mundo.

          Este autor afirma ainda que a experiência dá às crianças uma sensação de auto-eficácia, crenças sobre as suas próprias habilidades e talentos. As crenças de auto-eficácia ajudam a determinar quando as crianças vão imitar os outros. Por exemplo, uma criança que não veja em si própria o talento desportivo, o mais provável é não tentar imitar um jogador de basquetebol.

 

ý PERSPECTIVA COGNITIVO-DESENVOLVIMENTAL

          Esta perspectiva preocupa-se sobretudo com o modo como as crianças pensam e de que maneira o seu pensamento muda com o tempo.

          Jean Piaget (1896-1980) acreditava que as crianças tentam naturalmente entender o mundo. Durante a infância e a adolescência, o sujeito tenta entender tanto o mundo físico quanto o social.

          Piaget afirmava mesmo que, no esforço para conseguirem entender o mundo que as rodeava, as crianças agem como cientistas que criam teorias sobre os mundos físicos e social. Elas tentam reunir tudo o que sabem sobre os objectos e as pessoas em uma teoria completa. Estas teorias elaboradas pelas crianças são testadas diariamente através da experiência que estas vão tendo.

          Nem todos os teóricos do desenvolvimento cognitivo são da mesma opinião de Piaget. Os teóricos do processamento de informação, por exemplo, inspiram-se no modo como os computadores funcionam para explicar o pensamento e como ele se desenvolve durante a infância e a adolescência. Assim, como os computadores são formados pelo hardware (drives de discos, memória de acesso aleatório e uma unidade de processamento central) e software (os programas que utilizamos), a teoria de processamento de informação sugere que a cognição humana é formada por um hardware e um software mentais.

          Em suma, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget fornece uma orientação geral para o desenvolvimento cognitivo, mas a do processamento de informação concentra-se em elementos mais específicos.

 

         ý PERSPECTIVA CONTEXTUAL

          A maioria dos desenvolvimentistas concorda que o ambiente é um factor importante no desenvolvimento. Na sua grande maioria as teorias do desenvolvimento infantil tem dado uma maior importância às forças ambientais que afectam directamente as crianças. Alguns exemplos dessas influências ambientais poderiam ser, por exemplo, um pai a educar um filho ou um irmão mais velho ensinando o mais novo. Todas estas pessoas se combinam entre si resultando na cultura de uma pessoa, ou seja, o conhecimento, as atitudes e o comportamento associados a um grupo de pessoas. A cultura pode-se referir a um país, um povo em particular, uma época especifica, ou a grupos de individuos que conservam tradições culturais especificas.

          Um dos primeiros teóricos a enfatizar o contexto cultural no desenvolvimento das crianças foi Lev Vygotsky (1896-1934). Este psicólogo russo analisava as formas como os adultos transmitiam às crianças as crenças, os costumes e as habilidades da sua cultura.

          Vygotsky foi o primeiro teórico a propor a visão contextual, mas Urie Bronfenbrenner (1917-) é hoje o seu melhor teórico. Este investigador encara o desenvolvimento infantil como estando inserido em uma série de sistemas complexos e interactivos, dividindo o meio ambiente em quatro níveis: microssistema, mesossistema, exossistema e o macrossistemas.

          O microssistema compreende as pessoas e os objectos que fazem parte do ambiente mais imediato da criança, como por exemplo, os pais e os irmãos.

          Os microssistemas estão interligados criando assim o mesossistema que é originado através da influencia de um microssistema em um outro microssistema.

          O exossistema compreende sistemas sociais que talvez uma pessoa não experimente em primeira mão, mas que, mesmo assim, influenciam o seu desenvolvimento. Por exemplo, o ambiente de trabalho de uma mãe faz parte do exossistema da criança porque poderá suceder esta mãe dar mais atenção ao filho quando o trabalho está a correr bem.

          O mais amplo contexto ambiental é o macrossistema, que consiste nas sub-culturas e culturas em que o microssistema, mesossistema e o exossistema estão inseridos. Por exemplo, uma mãe, em seu local de trabalho, o seu filho e a escola dele fazem parte de um sistema cultural mais amplo.

 

          Muitas destas teorias não são mais consideradas válidas. Ainda assim, foram extremamente valiosas, impulsionando as pesquisas que levaram os cientistas a formular as teorias modernas. Exemplo disso é a de Piaget que para muitos teóricos não fornece uma explicação definitiva sobre as mudanças no pensamento das crianças mas, foi graças a esta teoria que muitas outras se seguiram, inclusive a da compreensão dos objectos por partes dos bebés e a mente das crianças em idade pré-escolar.

          Da mesma forma, embora em geral, a teoria de Erikson tenha sido abandonada, contribui para os trabalhos sobre o vínculo mãe-bebé e a formação de identidade durante a adolescência.

          Assim sendo, as teorias clássicas do desenvolvimento que tendem a ser bastante amplas, deram lugares a teorias mais precisas, porém, mais limitadas.

 

 

 

 

 

 

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